O bairro é neste momento uma das mais completas e belas experiências gastronómicas em Aveiro

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Um elemento maravilhoso de nos sentarmos à esplanada do Restaurante O Bairro, é a vista que nos coloca directamente na linha de visão da Ria de Aveiro enquanto esta vai fluindo pela cidade dentro. No entanto, em noites mais frias, sugerimos que optem por jantar no interior, pois acreditem que é uma verdadeira experiência em si mesma.  À primeira impressão, é sem dúvida o conceito de cozinha aberta para o público e a culinária do chef principal e da sua equipa, que mais nos chamam à atenção, mas vão ficar igualmente encantados com o staff simpático e hospitaleiro, todos vestidos com o tradicional traje de taberneiro à antiga. 

Outro destaque é o facto de assim que nos sentamos, fazermos contacto visual com uma colecção aleatória e em constante mudança de turistas, pessoas que estão de passagem e os moradores de Aveiro, todos os quais partilham uma sensação de entusiasmo e gratificação ao longo da sua experiência gastronómica. 

Uma vez sentados, somos imediatamente envolvidos pela representação da história do restaurante O Bairro, já que os toalhetes de mesa se apresentam personalizados com as personagens principais típicas de um bairro de Aveiro. Descobrirão, por exemplo, a persistência do Sr. Ramiro em manter a sua mercearia sempre limpa e arrumada e também o grito da Sõazinha a afirmar que o seu peixe é fresco e que seriam tolos em perder tal compra. Estes personagens são realmente interessantes e cómicos, criando uma relação harmoniosa com a nossa companhia de jantar, e também nos fazem sentir parte de uma antiga tradição, típica do que é representativo da vizinhança do bairro da Beira-mar de Aveiro.

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Sim, é verdade que estamos numa pandemia. No entanto, os pratos são moderados e de preço justo, uma vez que sentados e encantados com a experiência percebemos logo o porquê da diferenciação do preço. O que o Chef e a equipa fizeram n’ O Bairro foi combinar de forma muito inteligentemente uma experiência gastronómica tradicional imersiva com pratos modernos subtilmente melhorados e intensificados. Nota-se que foi estabelecido um novo padrão para sabores intensos e altamente focados nas mais invulgares combinações de ingredientes. Os pratos são generosamente doseados com uma perspicácia e um charme que conseguem exibir de forma consistente as combinações de sabor para o nosso melhor proveito.

Destaques (e acreditem que foi difícil escolher entre as mais atrativas sugestões), incluem o paté de bacalhau, com um toque especial do chef acompanhado por uma seleção de pão. Depois claro, “O Camarão de lima”, um risoto de sabor cremoso, recheado de suculentos camarões e amêndoas com notas de agrião, cebolinho e lima cobertos com uma espuma com sabor a frutos do mar. Este prato que à primeira vista parece simples, tonra-se numa verdadeira supresa no nosso paladar já que é tudo o que um risoto deve ser: intenso, rico e acima de tudo um excelente prato de conforto.

Outro prato que nos deslumbrou foi o “Eis o bife”, uma criação que homenageia a clássica combinação do “surf & turf”, mas elevada a um nível superior. O bife de novilho é tão tenro que quase derrete no nosso paladar. A exuberância daquele jus de camarão com a frescura das gambas cobertas em sementes de sésamo é de “ir ao céu” para depois sermos trazidos de volta à terra com as mais fabulosas batatas fritas gigantes.

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A seguir, o “O bosque”, pedaços de chocolate brownie misturados com uma compota de framboesa, curd cítrico e gelado de eucalipito. Refrescante e um verdadeiro jogo de texturas no nosso paladar. 

Finalmente as “Natas do céu e mirtilo” que são mais uma vez o elevar contemporâneo duma das sobremesas mais tradicionais de sempre da gastronomia portuguesa, com a ajuda do blue velvet de mirtilo, graciosamente envolvido com o cremoso de fava tonka e acompanhado pelo gelado dos tradicionais ovos moles. É uma combinação de sabores bastante invulgar que salta numa direcção inesperada; cada componente torna-se um amigo familiar na boca para criar uma textura cremosa e estaladiça que parece quase habilmente trapézio na língua.

Quanto aos vinhos, fomos elucidados pelo empregado que nos explicou as suas escolhas e, de entre uma excelente selecção de vinhos locais e nacionais, optámos pelo Sauvignon-Blanc “Quinta dos Abibes”, da zona da Bairrada cheio de notas exóticas e tropicais e com as suas características refrescantes, aliadas às ricas notas de sabor da refeição.

Ficam-nos muitas memórias, tais como o ambiente, o tema tradicional do bairro da Beira-Mar e das personagens desenhadas, o riso de todos os  que ali conviviam que se adequava ao ambiente alegre que o restaurante nos propunha.

Mas o que realmente ficou connosco depois da longa noite no “O Bairro” é o quanto esta experiência pareceu uma conversa genuína com o taberneiro, o barqueiro, o merceeiro, a peixeira e a vizinha do bairro da Beira-Mar. A história que tornou esta refeição numa experiência gastronómica inigualável. Façam uma visita, pois esta é simplesmente uma oportunidade única de provar as criações de um magnífico conceito e apoiar um espaço que tal como tantos outros ainda estará a recuperar da impiedosa pandemia. Que o reinado d’ O Bairro seja tão longo, antigo e residente como as maravilhosas personagens que por lá se encontram representadas.

Preço Médio: 25 – 35€  por pessoa

Horário: Sempre aberto das 12:30 – 15 :00  e  19:30 – 23:00  (excepto às quarta-feiras)

Telefone: 234 338 567

Data da publicação deste artigo – 2/03/2022

Texto: Exposer Magazine 

Fotografia: Exposer Magazine