A indústria da beleza perpetuou a importância de se ter uma boa aparência durante décadas, mas é, infelizmente, responsável por uma quantidade inacreditável de resíduos poluentes.
Cada limpeza, aplicação e pulverização tem uma consequência, e claro que não é uma das melhores para o ambiente. Por muito que encorajemos todos vós a serem aventureiros com a beleza, ao recomendarmos os novos lançamentos da industria da beleza mês após mês, também queremos parar e pensar em como as nossas compras podem fazer a diferença. Afinal, são mais de 120 mil milhões, as unidades de embalagens cosméticas criadas que todos os anos acabarão por ir parar aos aterros e oceanos, grande parte das quais não se biodegradarão por muitos séculos.
E à medida que aprendemos a tomar decisões mais conscientes em termos ambientais, como a substituição de sacos de plástico por sacos reutilizáveis na mercearia ou a troca de absorventes higiénicos por copos menstruais, é também tempo de repensar como nos podemos também sentir assim tão bem ao adaptarmos o nosso regime de cuidados da pele e maquilhagem.
Em baixo, apresentamos-vos um guia completo sobre como pode mos praticar a beleza sustentável assim como também quais os melhores produtos que se podem comprar para apoiar esta tão nobre causa.
Embalagem com consciência
Não podemos falar de beleza sustentável sem abordarmos em primeiro o maior elefante da sala: o desperdício de embalagens.
Não é nada invulgar encontrarmos os nossos produtos embrulhados em camadas de plástico e caixas de cartão, que depois alojam outro recipiente de plástico, lata, ou vidro para os nossos sérums, sombras de olhos, e tudo o que se encontra entre eles. No entanto, já são várias as marcas que estão a fazer um esforço gigantesco para repensar a forma em como apresentam os seus produtos aos consumidores, e embora se tenham apressado a reduzir o excesso de embalagens, ou a mudar para materiais mais recicláveis como o vidro e o alumínio (que podem ser reciclados num loop infinito), há uma solução que parece se destaca como a mais amiga da terra de todas: o uso de recargas.
A L’ Occitane pode ter começado a revolução em 2008 com as suas bolsas eco-refill, – que utilizavam 90 por cento menos plástico que as garrafas normais – e o movimento percorreu um longo caminho, uma vez que até os maiores nomes da indústria se aperceberam do mesmo. A Hermès e a Dior Beauty, por exemplo, têm batons em tubos recarregáveis super bonitos, enquanto que a MAC e a NARS encorajam as suas clientes a recarregar as suas paletas de sombras.
No mundo dos perfumes e das colónias, onde os frascos de vidro intrincados são tão importantes como a própria fragrância, marcas como Le Labo prolongaram a longevidade dos seus flacons chiques oferecendo um serviço pessoalmente recarregável, onde o seu frasco vazio pode ser enchido com um lote fresco do seu perfume favorito com um desconto. Até Chanel já está a oferecer aos seus fãs o tratamento de recarga do famosíssimo nº 5, basta trazerem o frasco icónico e voltar a enchê-lo.
Outra das marcas de cuidados da pele que esperam fazer a diferença é a Origins – que já está até ir mais longe e a oferecer-se para reciclar plásticos de outras marcas – assim como a REN Clean Skincare, que irá também lá lançar garrafas de vidro limpas e impressas com bombas totalmente recicláveis para seis dos seus produtos mais vendidos.
Ingredientes sustentáveis
Lá estamos outra vez a falar de um dos debates do século sobre os ingredientes – um debate que tem atormentado a indústria desde que as micro esferas cosméticas vieram à baila. O seu tamanho microscópico e o volume a que estavam a ser eliminados criaram uma enorme questão para os ecossistemas marinhos, e embora tenham sido sujeitos a uma proibição total na indústria cosmética, ainda há muito mais a fazer.
Os ingredientes microplásticos, por exemplo, estão presentes no ingrediente polivinilpirrolidona (ou PVP), um polímero solúvel em água que é prejudicial à vida aquática com efeitos duradouros. As máscaras, batons e bases, estão entre os produtos com maior presença de microplásticos, pelo que será sempre um desafio evitá-los completamente nas nossas rotinas diárias.
No entanto, não é impossível; marcas como a La Bouche Rouge Paris – que utiliza couro reciclado nas suas embalagens – também está a defender a causa do uso zero microplásticos, eliminando-a em todas as suas fórmulas.
A Biossance – uma marca de beleza limpa apoiada pela biotecnologia – não só conseguiu um processo de transporte neutro em carbono, plantando árvores e financiando projectos de reserva para cada encomenda enviada, como também trocou o esqualeno dos fígados dos tubarões por esqualano – uma alternativa derivada da cana-de-açúcar.
Há também um impacto ambiental quando são utilizados agro pesticidas nas plantações de algodão, que afectam a vida selvagem nativa e as pessoas que vivem nas proximidades destes locais. Os campos regulares de algodão também não se biodegradam devido aos processos de branqueamento e mistura utilizados para os criar.
No entanto, a nossa dependência destes produtos é muito maior do que imaginamos, e a verdade é que é urgente que se comece a abandonar o uso destes artigos, até porque já existem alternativas melhores.
Não descartem, reutilizem
Se pensarmos realmente nisso, o nosso regime de beleza não termina depois de estarmos todas bonitas e prontas para sair de casa. A dada altura, vamos procurar ferramentas como as almofadas de algodão e cotonetes para a remoção da maquilhagem, por exemplo. No entanto, uma rotina de cuidados de pele sem o uso do algodão pode fazer milages pelo ambiente. A produção de objectos de algodão, como as t-shirts e produtos para a remoção das maquilhagens, requerem água – muita água. De acordo com a WWF, a quantidade de água necessária para produzir 1kg de algodão é a mesma quantidade que uma pessoa beberia durante três anos.
Marcas como a LastObject estão a liderar esta mesma causa e a quebrar mitos sobre a reutilização de tais produtos de higiene. Os seus principais produtos, o LastSwab e o LastRound, são pontas Q reutilizáveis e rondas de algodão respectivamente, que funcionam tal como os descartáveis, e podem ser facilmente lavados com água e sabão para serem novamente utilizados. Uma embalagem destes últimos, por exemplo, é boa para 1.750 utilizações ou mais, e são embalados numa mala de base biológica para higiene e conveniência.
Se ainda estiverem hesitantes em reutilizar os cotonetes de algodão, pelo menos façam a mudança das versões de plástico para uma opção de bambu mais biodegradável como The Humble Co.’s Cotton Swabs, que são feitos de bambu totalmente biodegradável e cultivado de forma sustentável.
As inovadoras lâminas Hydrapuff são também feitas de pasta comprimida, à base de plantas e rayon – uma fibra fabricada que imita a textura do algodão. As folhas são completamente biodegradáveis, enquanto que a embalagem é totalmente reciclável, tornando-a numa alternativa decente aos descartáveis de utilização única que existem por aí.
Já não é suficiente assumirmos que o facto de levarmos o nosso saco reutilizável para as compras no supermercado já é uma excelente ação. É realmente necessário irmos mais além, e uma coisa é certa, já que tratamos da nossa própria beleza, porque não tratarmos também da beleza do espetacular planeta em que vivemos?
Data da publicação deste artigo – 16/05/2021
Texto: Exposer Magazine
Fotografia: cortesia das marcas