Hoje damos-vos a conhecer a inspiradora história do Paulo Azevedo que nasceu diferente de todos nós, mas que à medida que foi crescendo aprendeu que na vida o impossível está apenas na nossa mente, daí o titulo do seu mais recente livro “Não há impossíveis”… Caros leitores apresentamo-vos Paulo Azevedo, um verdadeiro exemplo de superação e de conquista…
Qual é a melhor memória que tens da tua infância?
As melhores memórias da minha infância são sem dúvida as minhas férias na Nazaré, a brincar com os meus amigos na praia e com os meus animais de estimação (tive dois ou três cachorros). Mas acima de tudo a minha ligação com o meu avô, com a minha avó, com a minha mãe e com a minha tia.
Como é que foram os teus tempos de escola? Tiveste alguma dificuldade na adaptação?
Os meus tempos de escola foram muito felizes, porque eu fiz a escola toda desde muito pequeno com os meus amigos de infância que cresceram comigo até à idade adulta e as únicas dificuldades que eu tive de adaptação foi mesmo quando me tentaram pôr as primeiras próteses nos braços. Aí criaram-se muitas dificuldades de adaptação, porque a realidade é que eu já fazia tudo sem mãos, já pegava nas coisas, já comia. Depois foi também a minha integração, que foi talvez as maiores lutas, eu usava muito o sentido de humor para me poder integrar e as pessoas sentiam-se à vontade comigo porque percebiam que eu gostava de mim da forma que eu era.
Tinhas muitos hobbies quando eras mais novo?
O meu maior hobbie quando era mais novo foi realmente a natação, já que depois também cheguei a fazer competição. Também gostava muito de ir ao ginásio, andar de moto4. O meu avô comprou-me uma moto4 quando eu tinha 12 anos e essa cresceu comigo até à idade adulta, agora tenho uma maior. Jogar futebol com os amigos, mesmo sem próteses. Mas a maior paixão que tenho desde sempre é mesmo o teatro.
Qual foi o papel dos que são mais próximos de ti, nomeadamente a tua família durante o teu tempo de desenvolvimento e de maturação até ao homem que és hoje?
A minha família mais direta teve um papel preponderante na minha construção. Mas acima de tudo foi a reação da minha mãe, que me teve com “apenas 16 anos” e eu nasci com 8 meses, e não viu a ecografia. Ela ia fazer o ultimo raio x e então foi um choque tremendo porque eu nasci de cesariana e ninguém imaginou que eu ia nascer assim. Era muito mais fácil desistir. A minha mãe a única frase que disse quando me viu embrulhado no cobertor foi que podia ter sido pior. Então como tal, a minha mãe foi a minha primeira heroína de carne e osso e não de ficção e também os meus pais e os meus avós porque contra todos os prognósticos médicos que diziam que eu nunca iria sequer me conseguir sentar, quanto mais andar. Acreditaram sempre e fizeram de mim o alguém que sou hoje.
Iniciaste o teatro com apenas com 6 anos. De onde é que surgiu a tua paixão pelas artes do palco?
Como eu referi anteriormente, a minha maior paixão na infância era o teatro e surgiu duma forma muito natural e foi um fiasco porque eu podia ter desistido logo com a minha primeira peça de teatro. Foi na escola no natal, a minha professora olhou para mim, e como eu era o mais pequenino sem próteses pôs-me umas fraldas e eu fiz de menino de jesus. E não há coisa pior para um ator do que é não ter falas durante uma hora de peça de teatro. Mas eu percebi que era em cima do palco que eu me sentia completamente realizado. Portanto posso mesmo afirmar que esta paixão começou num fiasco total (risos).
Estudaste jornalismo, mas acabaste por progredir na tua carreira profissional como ator e até foste o ator revelação na novela “Podia Acabar o Mundo da Sic”. De que forma é que integraste e adaptaste o conhecimento e a experiência que adquiriste no curso de jornalismo nesta tua carreira completamente diferente?
Confesso que o curso de jornalismo foi um pouco para fazer a vontade aos meus avós e à minha família. Queriam que alguém da família entrasse para o Ensino Superior e eu como gostava de comunicar, o curso mais próximo que tinha do comunicar e de lidar com o publico era o jornalismo . O jornalismo ajudou-me na forma de encarar ou comunicar com o publico, ou de falar para uma câmara. Mas eu depois também fui estudar representação e cinema para Lisboa, depois do jornalismo. A carreira de jornalismo foi muito curta, foram só dois anos, portanto não deu para tirar dali grandes ilações ou grande aprendizagens, mas sim que comunicar é uma arte e também uma das minhas paixões.
O futebol é outra das tuas grandes paixões. Qual foi a sensação de estagiar no Real Madrid e como é que surgiu esta grande oportunidade?
O futebol foi outra das paixões transmitidas pelo meu pai, o meu pai foi jogador de futebol e eu sempre tive aquela vontade de entrar no mundo do meu pai. O sonho do meu pai era que um dia o seu filho fosse um jogador de futebol, o que era impossível, mas eu percebi que o impossível está apenas na nossa mente e que podia ensinar a jogar futebol. Na altura em que eu tirei o primeiro nível do curso de treinador de futebol 11, surgiu a hipótese de eu pedir estágio e eu pensei logo em grande (Benfica, Porto, Sporting), consegui fazer algumas palestras nos três clubes mas o estágio foi mesmo proporcionado pelo Jaime Cravo, o jornalista da SIC que me ajudou com o e-mail do assessor do José Mourinho que na altura era o Eládio Paramés e eu enviei-lhe um e-mail a pedir estágio e ele aceitou. Aí foi quando eu percebi o ser humano tremendo que é o Mister José Mourinho e foram momentos inesquecíveis onde eu percebi que não é a grandeza dos clubes, mas sim a grandeza do coração humano que nos pode abrir portas.
Foste também o grande vencedor da Segunda temporada do “Splash! Celebridades 2”. O que é que te passou pela cabeça quando subiste pela primeira vez à prancha dos 7.5 m de altura?
Fui para este programa para o “Splash” de peito feito porque eu como fiz natação durante muito tempo pensava que aquilo era fácil. A primeira vez que eu cheguei aos 5 metros de altura é que eu percebi a dificuldade que aquilo tinha porque nós treinavamos muitas horas por dia. Quando cheguei aos 7 metros pensei que não era de possível e tive três dias até que conseguisse saltar de lá, mas com o apoio dos meus treinadores na altura e dos meu colegas eu consegui. Foi o superar de mais um desafio para mim mesmo, e uma sensação de que o impossível está apenas na nossa mente.
Quem é a pessoa que conheceste até hoje que mais te inspirou?
É o meu avô, sem dúvida, o meu avô.
Agora a pergunta reversa, quando é que sentiste que poderias ser tu a inspirar e a mudar a vida dos outros?
As palestras surgiram duma forma muito espontânea, às vezes não és tu que escolhes o sonho, é o sonho que te escolhe a ti, e no meu primeiro livro que é auto-biográfico eu dei por mim a ir às universidades e escolas falar sobre a minha vida e foi aí que eu percebei que eu podia fazer isso duma forma mais séria. Então em Madrid, o Mourinho disse-me “Tu podes andar aqui na relva ao meu lado, mas o teu lugar é dentro da cabeça das pessoas, e mostrares Às pessoas que se acreditarem realmente no seu valor conseguem. Então foi aí que eu tentei levar as palestras duma forma mais profissional.
Eu percebi que podia inspirar os outros também numa mensagem que eu recebi uma vez dum rapaz a dizer que no dia anterior tinha decidido pôr fim à sua vida, e estava decidido a mandar-se para uma linha de caminho de ferro para se pôr à frente dum comboio. Entretanto parou sentado para mandar uma mensagem para a família, penso que para a mãe e de repente nas redes sociais surgiu um video meu. Ele começou a ver este meu vídeo motivacional, depois o segundo e mais tarde o terceiro, e quando se apercebeu o comboio já tinha passado. Então quando ele me mandou esta mensagem tornou-se evidente que eu tinha que tentar mostrar que o difícil não significa impossível.
Fala-nos um pouco sobre a mensagem que tentas passar nas tuas palestras motivacionais…
Eu nas minhas palestras digo sempre que não sou exemplo para ninguém. A única coisa que eu passo nas minhas palestras é que não há segredos nem fórmulas mágicas. Acho que o principal passo para nós sermos felizes e realizados profissionalmente é gostarmos de nós como somos. É acreditarmos no nosso valor e percebermos que temos de falhar todos os dias para vencer e que o pior inimigo de nós mesmos somo nós e o nosso maior aliado também.
Costumas mandar muitas “calinadas” durante os teus discursos? Lembras-te de alguma em especial?
Assim de repente não me lembro de nenhuma calinada, mas o que acontece muitas vezes é as minhas próteses caírem quando estão encostadas às mesas.
“Não há impossíveis” é o título do teu mais recente livro… Achas que o facto de estarmos a viver uma fase menos boa e de muitos de nós termos sido altamente afetados com a pandemia, poderá tornar o teu livro ainda mais relevante?
O meu segundo livro foi um encontro comigo mesmo. Eu percebi que nesta pandemia nós tivemos de nos transformar e olhar mais para dentro, então este livro tem muito os meu medos e os meu falhanços, mas também falo das minhas conquistas e dos meus heróis e é acima de tudo um transportar das minhas palestras para a realidade da tua casa. É um livro de superação, que mostra que é nas fraquezas que nós podemos ganhar forças, que é nos momentos difíceis, nas rasteiras da vida que nós ficamos mais fortes cada vez que nos levantamos.
Tens dois filhos maravilhosos o Gustavo e a Matilde. São muito reguilas? Como é que costumas passar o teu tempo em família?
O Gustavo e a Matilde são a minha razão de viver. Não são assim muito reguilas, vá são reguilas q.b. Eu costumo passar o meu tempo a brincar com eles. Eu faço cavalinho, o facto de eu tirar as próteses e de ficar à mesma altura que eles é muito mais fácil para mim, mas eu costumo jogar futebol com o Gustavo, brincar às casinhas com a Matilde, passear com eles de moto4, tenho uma moto4 grande que dá para levá-los todos, mas acima de tudo gosto de estar muito presente e eles dizem-me muitas vezes “Pai, tu és muito divertido!”.
Finalmente quais são os teus projetos e desejos para este ano de 2021?
O que eu mais desejo é que nós possamos voltar à nossa vida normal e que possamos abraçar, a sorrir, que possamos voltar a ser felizes, porque nós éramos felizes e não o sabíamos.
Data da publicação deste artigo – 12/03/2021
Edição da Entrevista: Exposer Magazine
Fotografia: Paulo Azevedo – Brain Entertainment Group